terça-feira, 13 de outubro de 2009

Alegria aos pedaços


Quem já não se deparou com aqueles pequenos circos, que surgem da noite para o dia em alguns bairros de Joinville. Na sua maioria com instalações precárias, eles resistem e tentam levar diversão ao público de baixa renda. Eles lembram os teatros mambembe, aqueles grupos de atores que não dispunham de grandes recursos e levavam seus espetáculos a lugares muito afastados.


Apesar da lona furada e da lama que invade seu entorno nos dias de chuva, e muitas vezes, com uma tímida platéia, esses circos conseguem mesmo com as dificuldades enfrentadas, arrancar sorrisos de crianças e adultos.

Há cerca de duas semanas atrás, no bairro Costa e Silva, zona Norte de Joinville, os moradores da rua Graúna, amanheceram com um inusitado vizinho. Era o circo paranaense “Show Brasil Circu’s”. Apesar da pompa do nome, o circo não reflete os áureos tempos dos espetáculos circenses. Os veículos estacionados em volta da grande lona circular, em quase sua totalidade, estão em péssimas condições. São ônibus, trailers, caminhões e veículos de passeio que ajudam a transportar os artistas itinerantes a levar a alegria e cultura aos menos favorecidos.

Nas primeiras horas do dia, fora dos horários de seu funcionamento, já é possível observar a movimentação de seus integrantes. Crianças brincam ao redor da lona armada, mulheres realizam seus afazeres domésticos e homens cuidam da manutenção do circo. Ecléticos, os funcionários se revezam entre as apresentações e as atividades cotidianas. No “Show Brasil”, é comum o malabarista dirigir um carro de som pelas ruas do bairro avisando a população sobre a presença do circo. A montagem da estrutura, que apesar do aspecto simples e pouco atraente, é bastante trabalhosa, e exige o empenho de todos, artistas ou não.

Uma vida intinerante



Francisco dos Santos, 46 anos e natural do município do norte paranaense de Cia Norte, comenta que trabalha em circos há mais de 30 anos. Há seis meses no “Show Brasil Circu’s”. Ele é o equilibrista e malabarista, e atende com o nome artístico de Roberto Castilho. Demonstrando muita satisfação com o que faz, ele destaca que já ganhou uma etapa do quadro “Se vira nos trinta”, apresentado no Domingão do Faustão, na Rede Globo. Castilho revela que a vida circense está cada vez mais difícil e seu salário provem de um percentual da bilheteria. O equilibrista não esconde as dificuldades na vida dos artistas circenses. “Nossa vida também é itinerante como o próprio circo. Já trabalhei em grandes circos como o Vostock e Mexicano. Mas, ultimamente tenho oferecido meus trabalhos aos de pequeno porte. Por exemplo, antes de vir pra cá, trabalhei no Circo do Lingüiça”, diz em meio a gargalhadas. Apesar disso, ele diz que é sempre bem acolhido nos circos em que chega.

Desde os 10 anos na vida circense


Já o trapezista Célio da Silva, 30 anos e natural de Canoinhas, Planalto Norte catarinense, recorda que saiu de casa aos 10 anos de idade para acompanhar um circo que apareceu em sua cidade. Conhecido artisticamente como Índio, ele relata que seus pais foram até um cartório de Canoinhas e autorizaram sua ida com o circo. “Desde então, jamais larguei essa vida. Não me vejo em outra profissão”, afirma.






  Conseguir um terreno é o principal obstáculo 
 
 

O proprietário do “Show Brasil Circu’s”, Paulo Cesar Barreto, 38 anos e natural da capital paranaense, diz que nasceu em uma família circense. “Meus avós e pais eram donos de um circo grande. Mas, para podermos dar continuidade a tradição, dividimos a estrutura principal em três pequenos circos. O Show Brasil I, Show Brasil II e o Dinâmico”. Barreto conta que as dificuldades são cada vez maiores. Ele elenca como principal obstáculo, encontrar um local para instalar o circo. De acordo com ele, muitos proprietários de terrenos não disponibilizam mais, ou então, pedem valores demasiadamente altos. “Isso se torna inviável a instalação. Nós cobramos preços simbólicos, algo entre R$ 3,00, e em alguns dias, apenas R$ 1,00. É uma forma de contribuir para que as pessoas tenham acesso ao circo. Pagar por preços tão elevados é impossível”, lamenta.
 
 
Burocracias municipais dificultam ainda mais
 

Paulo que também é o apresentador dos espetáculos relembra que anos atrás era comum o terreno ser cedido em troca de ingressos ou espetáculos gratuitos. “Apesar de que em muitos casos nós tenhamos que pagar pelo terreno, nunca deixamos de apresentar espetáculos com fins sociais. Arrecadamos alimentos e doamos a alguma entidade do bairro onde estamos”. Barreto também revela que, além disso, os circos também enfrentam as burocracias dos governos municipais. “São muitos alvarás, Fundema, Seinfra, Vigilância Sanitária e Corpo de Bombeiros. O Imposto Sobre Serviços (ISS) tem que pagar antecipado, com base em uma projeção da venda dos ingressos. Às vezes pagamos o que nem chegamos a arrecadar”.
 
 
De bairro em bairro
 
 

Depois de duas semanas no bairro, no último domingo, dia 12, o “Show Brasil Circu’s”, se despediu do bairro Costa e Silva. Nem mesmo a torrencial chuva que caiu suspendeu as apresentações que tiveram os ingressos vendidos a R$ 1,00. O publico foi bastante tímido, aproximadamente 100 pessoas, destas, a maioria crianças menores de 12 anos, que não pagaram ingresso. Nesta segunda-feira, o pequeno circo seguiu para outro bairro de Joinville. Dessa vez, eles irão armar sua lona no Jardim Franciele, próximo ao aeroporto Santos Dumont.
 
 
 
principais atrações do Show Brasil Circu’s




- Trapezistas

- Mágico

- Taxi Maluco

- Contorcionista

- Pendulo Espacial

- Equilibristas

- Palhaços

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