quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A Hidra Muda

Liguei a TV, e ao zapear os canais percebi que em um deles apareciam três criaturas que falavam e gesticulavam freneticamente. Porém, não se ouvia um grunhido sequer, nenhum cacarejo, nem mesmo um relincho ou uivo. Confesso que em um primeiro momento fiquei assustado com a expressão de cachorro louco daquele espectro televisivo, um verdadeiro poltergeist. Continuei a observar embasbacado e boquiaberto a situação surreal. Um deles me pareceu com muito calor, pois se abanava o tempo todo com um jornal em uma das mãos. Questionei-me. “O que será que esses seres tentam desesperadamente dizer?”. Alguma coisa me pareceu familiar naquelas cabeças deprimentes, entretanto, por mais que eu tentasse rever os arquivos de meu cérebro, não consegui identifica-los. Olhei atentamente e as três cabeças me remeteram à mitologia. Elas eram como uma hidra desvairada querendo “arranhar” alguém. Na cabeça central, que tinha uma aparência de cervo com raros fios de cabelo, era visível as artérias saltando e ganhando volume em seu pescoço, o que indicava a iminência de um piripaque. Esforço inútil, porque eu continuava sem ouvir nenhum mugido. O crânio da direita lembrava vagamente um batráquio, era o que menos gesticulava. Já a cabeçorra da esquerda, em determinados momentos passava a impressão que sairia da tela e saltaria como uma lagartixa doida para fora da TV, por cautela dei um passo para trás. Voltei a realidade e desisti de tentar decodificar aquelas mensagens apocalípticas. Sintonizei um canal de filmes antigos, muito bons por sinal.

domingo, 2 de novembro de 2008

Não é de hoje que "radialistas" de Joinville não agradam a comunidade séria da cidade

Este texto, de autoria do jornalista Wagner Baggio, foi publicado no site Caros Ouvintes (http://www.carosouvintes.org.br/), e retrata a estirpe que ocupa os microfones das rádios em Joinville. Infelizmente, a máxima que prevalece é a do dinheiro. Paga-se e ataque quem quiser. Mas, o pior é o grau de idiotice que se instala em quem os ouve. Boa leitura.

Afinal, que rádio é esse?

O leitor Wagner Baggio* levanta uma questão que muito nos inquieta e que acreditamos seja também do interesse do caro leitor: o rádio “transformou-se em território de amadores que têm acesso ao microfone em troca de qualquer carteira com meia dúzia de anunciantes”. Da Redação
Talento, criatividade, interpretação, capacidade de se expressar, conhecimentos gerais, cultura, personalidade, profissionalismo e responsabilidade social, dão lugar ao dinheiro que domina e escraviza a sociedade como um todo. Esta é a triste realidade em uma grande parte do mundo do rádio atual.

O tema tem sido tratado por este e outros ângulos sistematicamente nos quatro anos do site e é um dos itens que determinaram a criação do Instituto Caros Ouvintes. Mas, isto como se vê, é muito pouco. E o que é mais grave, justo num estado como Santa Catarina onde a cultura e os bons costumes mais prestigiam o rádio como meio de comunicação social.

Trazemos este assunto à sua consideração caro leitor na esperança de que juntando a sua à nossa voz sejamos ouvidos pelos concessionários dos canais de rádio e pelos profissionais que lá trabalham. Porque uns como os outros se servem de um bem público que pertence ao cidadão. E estes, radialistas e radiodifusores, por ignorância, ambição descabida ou desídia colocam acima do interesse público suas vaidades e interesses de ordem econômico-financeira, ressalvadas as conhecidas exceções.

Outro aspecto relevante levantado pelo Wagner é o da irresponsabilidade com que o meio está sendo usado quando diz “Pessoas e instituições são atacadas sem qualquer pudor ou direito de defesa, um abuso”. E conclui: “Repito. Exceções existem, mas também há muita gente com acesso a microfones emitindo opiniões sobre tudo e sobre todos”.

De todas as misérias que atacam esse bem de consumo obrigatório como canal de comunicação, cultura e lazer, o rádio padece de um mal maior – que não é seu exclusivo – mas nem por isso deixa de ser deletério e ignominioso: a irresponsabilidade dos órgãos de fiscalização. E aí são todos: municipais, estaduais e federais. Aqui está a raiz do mal que nos ataca a razão, o coração e o espírito.

A quem recorrer? À sociedade, pois é o que nos resta!
Sim, recorrer à sociedade através de seus mecanismos básicos e institucionais: família, associações profissionais, comunitárias, políticas e sociais. E aos órgãos públicos, por que não, se os pagamos e bem para responderem pelos desvios de conduta das pessoas e organizações que assumem responsabilidades públicas de prestação de todo e qualquer tipo de serviço, mas não os cumprem com o devido zelo e decência necessários?

Onde estão os órgãos e instituições de normatização e fiscalização ligados à prestação de serviços de comunicação no país? Onde estão o ministério público e os serviços de defesa do consumidor? Onde estão as câmaras municipais, as assembléias legislativas e a câmara dos deputados? Em que mundo, em que planeta se escondem esses senhores e senhoras que sob o manto de seus cargos recebem o dinheiro gerado pelo suor de trabalhadores abandonados à sua própria sorte?
Sem dúvida, caro leitor, é deprimente.

Entretanto, mesmo constrangidos pelo desconforto da falta de respeito mínimo para com os nossos direitos de cidadãos, devemos sair da complacência e deixar o bomocismo de lado com ações efetivas de repúdio a quem nos ofende tão descaradamente.

*Wagner Baggio é jornalista profissional e reside em Joinville onde atua em jornal impresso