sexta-feira, 16 de novembro de 2012

CRISE DOS IMPRESSOS

Fazer mais jornais, uma saída




Impressiona a leveza com que a Editora Abril faz revistas. Basta um piscar de olhos e ela já tem um novo título na rua. Se emplacar, mantém. Se não emplacar, fecha. É comum encontrarmos nas salas de espera dos consultórios médicos ou dos dentistas algum título novo, que nem sonhávamos existir. A “arvorezinha” está lá como que atestando a flexibilidade editorial e industrial da Abril.
A Abril foi uma das empresas que tentaram comprar o jornal Gazeta Mercantil, que começava a derreter com a crise que o atingiu em 2001 e seria responsável pelo seu fechamento em 2009. Se a transação tivesse ocorrido, representaria a entrada da Abril no mundo dos jornais. Será que conseguiria fazer jornal com a mesma leveza com que faz revistas? O mundo dos jornais precisa aprender a fazer jornal com mais simplicidade, a exemplo do que fazem os japoneses.
Nos anos 1990, o Estado de S.Paulo descobriu o segredo dos japoneses em produzir jornais interessantes e a custos reduzidos. Eu mesmo estive lá, na Nikkei, em Tóquio, como enviado da Agência Estado, para aprender como era possível editar vários títulos com base num único conteúdo. Fiz um relato do que vi para as redações do Estadão e do Jornal da Tarde. Os japoneses influenciaram mudanças e talvez tenham dado uma sobrevida de vários anos ao Jornal da Tarde, mas as operações para editar dois jornais continuaram pesadas, resfolegantes.

A dificuldade de fazer dois jornais

Os japoneses já haviam conceituado: para eles, a informação é o “peixe”; o “pescador” é o repórter. Ao ser fisgado, o peixe nunca vai direto para o supermercado (redação). Passa antes pelo que chamam de “câmara frigorífica” – um bureau de captação de informações – onde é processado. Devidamente retalhado, o “peixe” é então despachado para as redações – escama para quem usa escama; cabeça para quem usa cabeça; filé para quem usa filé.

O “bureau de captação” tal qual vi em funcionamento na Nikkei era independente, alimentava todas as redações, que eram pequenas, enxutas, tinham apenas um corpo de editores e um ou outro articulista especializado ou repórter especial. Dentro desse modelo, a Nikkei produzia 16 jornais na época, fora serviços informativos em tempo real. O custo operacional do “bureau”, responsável por mais de 80% da captação das informações do grupo, era rateado entre todas as redações.

O conceito japonês é usado a meia bandeira por alguns grupos de comunicação regionais, entre eles a rede de pequenos jornais Bom Dia, de J. Hawilla. Uma espécie de agência, que corresponderia ao “bureau” do Japão, fornece os conteúdos nacionais para a rede, que tem pequenas redações locais de edição e captação. Por esse critério, o empresário consegue fazer vários jornais a custos otimizados. Seu grande problema – ainda não resolvido – é captar conteúdos locais mais atraentes e que consigam seduzir os leitores dos municípios onde circulam os seus pequenos jornais com a pretensão de serem populares, com alta vendagem em bancas.

A indústria dos grandes jornais brasileiros ainda não sabe trabalhar com o conceito japonês. Suas operações são pesadas e geralmente concentradas na produção de um único veículo. O grupo Estado, por exemplo, acaba de tirar o Jornal da Tarde de circulação a pretexto de que suas energias precisam estar concentradas na locomotiva chamada O Estado de S. Paulo. Na verdade, o Estadão sempre encontrou dificuldades para fazer dois jornais e sempre se manteve distante da ideia de fazer mais de dois.

Inspiração para os grandes

Por certas idiossincrasias dos grandes, o espaço existente para pequenos jornais de bairro, para jornais gratuitos, populares e outros, segmentados, tem sido ocupado por empreendedores de origem difusa, sem compromisso maior com a qualidade da informação. Faltam mais jornais no portfólio dos grandes jornais brasileiros que sejam úteis para otimizar custos, maximizar os recursos – que não são baixos – aplicados na indústria gráfica e na distribuição.

Os novos tempos exigem foco também na plataforma digital. Talvez por isso, as empresas que editam um jornal nem pensam em lançar mais de um. São tempos de vacas magras, pois são também tempos de intensa disrupção. Ninguém mais ousa lançar jornais empolgantes, como foram o Jornal da Tarde e mesmo o regional Panorama, nos anos 1970, em Londrina, pelo empresário e ex-governador do Paraná Paulo Pimentel. Que não façam mais jornais empolgantes, compreende-se; que não façam mais jornais e jornais mais interessantes com base nos mesmos conteúdos, não se entende. É arriscado demais colocar todos os ovos no mesmo cesto.

Pelo menos dois grupos de atuação regional – RAC e RBS – têm comprovado, ao longo do tempo, as conveniências de distribuir os ovos por mais cestos. Agora mesmo, a RAC – Rede Anhanguera de Comunicação suprimiu a versão impressa do antigo Diário do Povo, veículo adquirido do ex-governador Orestes Quércia e que foi, digamos assim, posto de lado para não concorrer com a locomotiva da rede, o diário Correio Popular. A supressão não teve qualquer impacto na imagem da rede, tal a diversidade de títulos que ela lançou nos últimos anos. A RAC edita o tradicional e famoso Correio Popular em Campinas e mais o Notícia Já, Notícia Já Ribeirão, a Gazeta de Piracicaba, a Gazeta de Ribeirão, a revista Metrópole e o Panorama RAC. Ao que se informa, são títulos já consolidados e rentáveis.

Outro grupo que, no mundo dos impressos, optou pela diversidade é o RBS, detentor de várias emissoras de TV e de Rádio no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Seus impressos são líderes de mercado em toda a parte: Zero Hora, Diário Gaúcho, Pioneiro, Diário de Santa Maria, Diário Catarinense, Hora de Santa Catarina, Jornal de Santa Catarina e o A Notícia. São jornais de circulação regional (Zero Hora, Diário Catarinense) ou local (Jornal de Santa Catarina, com circulação em Blumenau, e A Notícia, com circulação em Joinville).

O grupo ocupou o mercado de impressos de Santa Catarina de tal modo que é acusado de monopólio pelos grupos concorrentes. De qualquer modo, dá demonstração de que passa ao largo da crise que assola os impressos no mundo todo e sua estratégia aparenta ser a de aproveitar a vitalidade econômica dos mercados regionais ou locais. Se operasse em São Paulo, com certeza o Grupo RBS já teria criado o jornal de Osasco, de Santo André, de São Bernardo, de Joinville, de Campinas...
RAC e RBS deveriam servir de inspiração para os grandes.


[Dirceu Martins Pio é ex-diretor da Agência Estado e Gazeta Mercantil e atual consultor em comunicação corporativa]

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Câmara Federal pode votar marco civil da internet


Também podem entrar na pauta o fim da assinatura básica de telefonia, alterações no Código Brasileiro de Aeronáutica e o adicional de periculosidade para vigilantes e seguranças privados.
A votação do marco civil da internet (PL 2126/11, apensado ao PL 5403/01) é o destaque da pauta do Plenário desta semana. Também pode ser votado, entre outros itens, o requerimento de urgência para o projeto que acaba com a assinatura básica na telefonia (PL 5476/01). Esse projeto lidera o ranking de participação popular entre as propostas que os cidadãos esperam ser votadas.
O Plenário terá sessões de votação hoje (13), a partir das 9 horas, e amanhã (14).

Marco civil

Um dos maiores impasses no texto do relator, deputado Alessandro Molon (PT-RJ), para o marco civil da internet é a redação para o artigo sobre a neutralidade da rede, que pretende garantir a inexistência de privilégios na transmissão dos dados, independentemente de conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicativo.

Esse ponto, de acordo com o relator, vai impedir que os provedores façam distinção de velocidade entre um ou outro site ou aplicativo. Alguns deputados, no entanto, manifestaram-se contra a neutralidade e defenderam a possibilidade de o provedor dar preferência, na transmissão de dados, para o consumidor que pagar mais.

O texto também disciplina direitos e proibições no uso da internet, assim como define os casos em que a Justiça pode requisitar registros de acesso à rede e a sites, enfatizando o caráter de livre acesso e manifestação característico da internet.

Entre os direitos do usuário listados estão a inviolabilidade da intimidade e da vida privada; a não suspensão da conexão, salvo por falta de pagamento do serviço; a manutenção da qualidade contratada; e o direito de pedir a exclusão definitiva de dados pessoais fornecidos a determinado site depois de terminada a relação entre as partes.

Capital na aviação

Os deputados podem votar ainda o Projeto de Lei 6716/09, do Senado, que aumenta de 20% para 49% o limite de capital estrangeiro com direito a voto nas empresas aéreas nacionais.

O texto prevê que, se houver reciprocidade em acordo assinado pelo Brasil com outro país, esse limite poderá ser maior. Em qualquer caso, a transferência de ações com direito a voto para estrangeiros dependerá de aprovação da autoridade de aviação civil.

A matéria conta com um substitutivo da comissão especial que acrescenta, no Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei 7.565/86), regras para beneficiar os usuários do transporte aéreo, aplicáveis se não houver disposição em contrário no contrato do serviço.


Adicional de periculosidade

Outra proposta, para a qual deve ser analisada emenda dos senadores, é o PL 1033/03, que estende o adicional de periculosidade aos vigilantes e seguranças privados devido ao risco de roubos ou outras espécies de violência física.

A emenda do Senado excluiu da redação dada pela Câmara o direito ao adicional de periculosidade para atividades sujeitas a acidentes de trânsito e de trabalho.

O projeto altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT - Decreto-Lei 5.452/43).

Tributos e transgênicos

Já com regime de urgência, o Projeto de Lei 1472/07, do Senado, obriga os comerciantes a colocar nas notas fiscais o valor dos tributos incidentes sobre os produtos e serviços vendidos. O objetivo é detalhar para o consumidor a participação dos impostos na composição do preço das mercadorias.

Também pode ser votado o Projeto de Lei 4148/08, do deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), que disciplina as informações que devem constar nas embalagens para informar sobre a presença de ingredientes transgênicos nos alimentos. Na prática, o projeto revoga o Decreto 4.680/03, que já regulamenta o assunto.

Novos tribunais

A única proposta de emenda à Constituição pautada é a PEC 544/02, do Senado, que cria quatro tribunais regionais federais (TRFs) por meio do desmembramento dos cinco já existentes.

O objetivo da PEC, defendida por juízes e procuradores, é desafogar a Justiça Federal, principalmente o TRF da 1ª Região, hoje responsável por 13 estados e pelo Distrito Federal. De acordo com o texto, seis estados desse tribunal passam a fazer parte de novas três regiões: Minas Gerais, Bahia, Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima.