sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A insustentável pobreza do ser (de um jornalista)

Sintomas clássicos da degradação financeira de um jornalista, também conhecida como “pindaíba mórbida”:

1. Ir a um encontro romântico, ostentando o jabá recebido dias antes numa coletiva para a imprensa. Tudo bem que o restaurante não é nenhum francês bacanérrimo, mas é extremamente decepcionante para uma mulher jantar com um homem – ela chegou até a imaginar que ele poderia ser o futuro pai de seus filhos – que veste uma camisa pólo azul-cafona com os dizeres “Tubos e Conexões Tigre”. Mesmo com letras discretas.

2. Embolsar o dinheiro do táxi – que será gasto no Carrefour – e seguir para a pauta de ônibus, naturalmente lotado. Além de poder chegar atrasado ao local da reportagem, o jornalista ficará com a roupa toda amassada e também poderá perder o gravador e o bloquinho de anotações no trajeto. Se o motorista do ônibus for daqueles que dão uma freada brusca antes de parar em cada ponto, há ainda o risco de uma gravidez indesejada.

3. Ir a uma coletiva de imprensa que não despertou o menor interesse do jornal apenas para filar o almoço. O jornalista finge que prestou atenção na entrevista, finge para o assessor de imprensa que vai dar um espaço legal para o assunto na edição do dia seguinte e devora o filé mignon ao molho madeira sem qualquer outro fingimento.

4. Pedir para o garçom do almoço acima preparar uma quentinha que o jornalista finge que vai levar ao motorista que ficou do lado de fora do evento. É um dos sintomas mais tristes da pobreza. Na verdade, será o jantar do jornalista naquela mesma noite.

5. Participar de uma entrevista concorrida, cheia de empurra-empurra, com dois microfones e um gravador nas mãos. O repórter de rádio/TV/internet chega a lembrar um daqueles deuses hindus que têm um monte de braços. Ele faz malabarismos para conseguir captar o áudio. Se falhar, pode perder um de seus três empregos. Ah, ele tem também um quarto emprego, meio período como assessor de imprensa na prefeitura.

6. Levar o filho, que mora com sua ex-mulher, ao cinema para assistir ao filme “O Guerreiro Didi e a Ninja Lili”, com um par de ingressos que estava esquecido numa mesa da redação e não despertou a cobiça de nenhum outro jornalista. Ao fim do filme, o filho, que já tem uns 15 anos, vai, com certeza, dizer ao pai: “Da próxima vez, a gente poderia ver X-Men ou algum outro filme mais interessante?”.

7. Ficar do lado de fora de um evento chique, de artistas ou políticos, e, com aquela cara de cão faminto, tentar descolar comida e bebida com um segurança da casa. O grupo, geralmente, é liderado por um fotógrafo desinibido – aliás, fotógrafos são todos desinibidos –, que faz a negociação com o segurança. Quando enfim chegam os salgadinhos gelados e o prosecco sem gás, os jornalistas disputam os restos, numa cena comovente e chocante, digna de ser registrada pelas lentes de Sebastião Salgado.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Engenheiros do Hawaii - Depois de Nós

Girl, You'll Be A Woman Soon

Tipos manjados da grande imprensa

Kelly Cristina, 42 anos, editora de Geral, bipolar, insegura. Acha que todo mundo pensa que ela só chegou à chefia pela amizade de muitos anos com o diretor de redação. Para garantir respeito à hierarquia, adota linha dura com os repórteres. Em alguns momentos, abusa de seu poder; em outros, é dócil e maternal. Estressada, desce vários andares 15 vezes por dia para fumar. Às vezes, trabalha com sapatos de modelos diferentes em cada pé.

Augusto, 24 anos, foca viciado no jogo War, sonha ser correspondente internacional. Para começar vale qualquer parte do mundo, como Caracas, mas se for em Paris melhor. Adora viajar, estudar idiomas e geopolítica internacional. Quer cobrir guerra, entrevistar algum líder político. Hoje, faz matérias sobre agricultura. Está de saco cheio de safras e entressafras, mas sabe que é só uma fase. Adora invadir o Alaska por Vladivostok.

Seu Antoninho, 60 e muitos anos, repórter policial há quatro décadas. Estável, não pode ser demitido. Chega e vai embora sempre nos mesmos horários. Raramente escreve uma matéria. O único com cadeira cativa, onde pendura seu velho paletó de tergal da Ducal. Homem quieto, é tido pelos jovens como uma entidade espiritual. Costuma tirar um cochilo na redação.

Talita, 23 anos, repórter de Variedades, recém-chegada de Votuporanga. Não admite ter sotaque do interior. Detesta o apelido de Cabocla e a fama de boa moça. Faz planos para despirocar. Vai a todas as festas esfumaçadas em casa de jornalista. Está louca para tomar um porre de vodka Orloff. Se julga supermoderna. Sonha morar sozinha num apê no centrão. Hoje, ainda vive com uma tia viúva, dois cães e três gatos.

Gustavo, 39 anos, redator de Economia, bonitão e maior pegador da redação. Metrossexual, depila o peito e adora cremes faciais. É discreto e bom de papo. Marca encontros no café pelo MSN. Prefere as mulheres que dão na primeira noite. Não se envolve afetivamente com ninguém. Solteirão, mora com a mãe, que nunca foi vista pelos amigos. Para alguns, a velha está empalhada. Outros dizem que ela é a senhora Bates, do filme Psicose.

Luís Otávio, 46 anos, editor-assistente de Esportes, homem sério e educado. Usa óculos, se veste bem e faz a barba todos os dias. Cabelo aparadíssimo. Trabalha após o fechamento. Não fala palavrões. Nem mesmo um “merda” de vez em quando. Casamento estável. Ama a mulher, que também trabalha no jornal. Não suporta cigarro. Bebe socialmente. Não vai a happy hours. É muito certinho. Nem parece jornalista.

Carlito terá que indenizar Tomazi

A Câmara Especial Regional de Chapecó confirmou sentença da Comarca de Cunha Porã e manteve a obrigação de Erich Arnaldo Huf e Carlito Huf indenizarem Jadir Tomazi em R$ 64,7 mil, por danos materiais e lucros cessantes.

Em 15 de janeiro de 2009, Carlito dirigia o caminhão de propriedade de Erich e parou sobre a pista da BR-282, para entrar em uma via secundária à esquerda. Jadir, que seguia pela via em seu caminhão, colidiu com a traseira do primeiro veículo. Com o impacto, o caminhão de Jadir teve danos materiais, e ele deixou de trabalhar na realização de fretes.

Na apelação, Erich e Carlito questionaram o valor dos danos materiais e afirmaram ser Jadir o culpado pelo acidente, em razão de excesso de velocidade. O relator, desembargador César Abreu, porém, não acatou os argumentos dos dois, por falta de consistência das alegações e divergência com os dados do boletim de ocorrência.

“Não há dúvida de que a manobra temerária do réu Carlito, de convergir à esquerda sem aguardar no acostamento o fluxo de trânsito cessar, foi bastante para produzir o acidente em questão. A culpa grave prepondera sobre eventual excesso de velocidade ou desatenção do autor em guardar distância segura do veículo”, concluiu César Abreu.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Paródia: Folha tira site “Falha de S.Paulo” do ar

A Folha de S. Paulo conseguiu, por meio de uma liminar (antecipação de tutela), tirar o site Falha de S. Paulo do ar. A página foi criada a cerca de 20 dias e fazia uma paródia do jornal, com críticas à cobertura do veículo. O site era mantido por Lino Ito Bocchini e Mario Ito Bocchini, que pretendem recorrer da decisão da 29ª Vara Cível de SP, que condena os irmãos a pagarem multa diária de R$ 1.000 caso descumpram a determinação.

A alegação da Folha de S.Paulo para mover a ação é o "uso indevido da marca" na página de paródia. O processo contém mais de 80 páginas.

Para Lino Bocchini, a atitude da Folha foi “violenta”. “Não recebemos nenhum e-mail antes, nenhuma ligação. A liminar chegou direto. É uma ação muito violenta”, afirmou. O jornalista disse ainda que o veículo se contradiz com o processo. “Eu sempre li a Folha e concordei com os editoriais com defendem a liberdade de expressão. Mas agora a Folha vai contra tudo o que ela defendeu”, criticou.

Segundo a advogada Taís Gasparian, que trabalha no caso, a Folha não questiona nem a sátira, nem o nome do site, apenas o uso da marca, que envolve o logotipo e layout do jornal.

Lino não concorda com a alegação. “A Folha foge da discussão central, que é o impedimento de fazer uma crítica ao jornal”, contesta. O jornalista ainda ressalta que ele e o irmão não são filiados a nenhum partido e apenas questionam a cobertura do veículo.

De acordo com ele, a intenção é recorrer da decisão, mas a tarefa é difícil. “Não somos uma empresa, nem organização. Apenas criamos um site, uma paródia. Nós não temos advogado, mas agora vamos ter que procurar um”, disse.

O Twitter do Falha de S. Paulo e um vídeo crítico, que satiriza uma campanha do jornal, continuam no ar, mas os autores temem que a Justiça decida retirá-los.

(Izabela Vasconcelos)- Comunique-se



Paródia: Folha tira site “Falha de S.Paulo” do ar