sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Diretor do Estadão explica furo que fez MEC adiar o Enem

O diretor de conteúdo do jornal O Estado de S.Paulo, Ricardo Gandour, explica como foi feita a denúncia que adiou a aplicação da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O jornal foi procurado por um homem na tarde de ontem (30/09) que, ao telefone, disse ter as duas provas que seriam aplicadas no sábado e no domingo. Reunindo dados do exame, o Estadão procurou o Ministério da Educação que comprovou o vazamento da prova ao analisar elementos do exame.

Jornal se negou a comprar material

“A reportagem trouxe o assunto para a direção. Sempre fazemos isso nesses casos. Pensamos conjuntamente nos passos que íamos tomar, porque vimos que estávamos diante de um fato grave. Nos documentamos e fomos em busca do ministério”, contou Gandour.

O homem que procurou o jornal pretendia vender as provas para a redação em troca de R$ 500 mil. O Estadão se negou a comprar o exame, mas decidiu ir ao encontro do homem para fazer uma breve consulta no material. “Jamais compraríamos o material, desde o primeiro momento esclarecemos”, diz o diretor.

Duas pessoas compareceram ao encontro com as provas em mãos que disseram ter recebido na segunda-feira (28/09), de um funcionário do Inep, órgão do MEC responsável pelo Enem. Os dois afirmaram que o esquema de fraude tinha cinco pessoas.

A repórter do jornal, Renata Cafardo, que fez a matéria ao lado de Sérgio Pompeu, escreveu em seu blog no Estadão. “Eu pedi para ver a prova e eles a colocaram, sem cerimônias, na mesa do café. Estavam lá os logotipos do governo federal, das empresas contratas para organizar a prova, do Inep. Ao folhear a prova, não acreditava no que via. (...) Tratei de decorar o máximo de questões possíveis”.

Renata disse que a intenção dos homens era apenas o dinheiro. “Queriam dinheiro e deixavam claro isso. Pediram R$ 500 mil e tinham a convicção de que fariam o negócio com algum veículo de imprensa. Deixamos claro que o Estado repudiava esse tipo de comportamento, que aceitaríamos denunciar o vazamento desde que não pagássemos por isso”, escreveu.

A repórter também informou em sua página que pouco antes da ligação do homem que pretendia vender as provas, recebeu um recado de uma outra pessoa interessada em vender o gabarito do exame.

Apuração e provas

Consultando alguns trechos do material, o jornal decidiu procurar o ministro da Educação, Fernando Haddad, e repassar alguns elementos do conteúdo do exame. Com a ajuda de técnicos do Inep, o ministro confirmou o vazamento da prova.

Com o adiamento do exame, a nova prova será aplicada em 45 dias, com um prejuízo que pode chegar a R$ 34 milhões para o ministério. O caso será investigado pela Polícia Federal, que abrirá inquérito por ordem do ministro da Justiça, Tarso Genro.

Furo e censura

O caso repercutiu em toda a imprensa brasileira. Para Gandour, o furo é ainda mais importante nesse momento em que o veículo passa por uma censura, pela qual o jornal é proibido de publicar informações sobre a operação Boi Barrica, que envolve o nome do filho de José Sarney, presidente do Senado.

“Nessa hora o sentido mais importante é ressaltar o valor da imprensa para a sociedade, porque a imprensa não busca o poder, mas a verdade. Num momento em que nós estamos censurados, um episódio como esse resgata a imprensa como um canal e patrimônio da sociedade”, declarou.

Fonte: Izabela Vasconcelos, de São Paulo

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