“Cuidado: cenas fortes”. É dessa maneira que o site do jornal O Dia avisa sobre o conteúdo de um vídeo publicado nesta sexta-feira (12/12) sobre o ex-marido da atriz Suzana Vieira, Marcelo Silva, morto na quinta-feira, no estacionamento de um flat na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Nas imagens, cenas do corpo vestido apenas com uma cueca, com uma mancha de sangue perto da cabeça. Para o professor de direito da FMU Edson Knippel, o jornal pode ser alvo de processos judiciais.
“Essas imagens ferem o direito a intimidade, privacidade e dignidade da pessoa humana. No meu ver, a família do morto pode mover uma ação por danos morais. Houve um abuso da imprensa”, avalia.
"O vídeo tem relevância jornalística"
Esse não é o entendimento do editor-executivo do O Dia, Henrique Freitas. Segundo ele, independente do conteúdo do vídeo, o jornal tem sempre que estar preparado para receber processos, já que isso depende do entendimento de terceiros e não apenas da correção do jornal.
Freitas conta que as imagens não foram feitas por profissionais do jornal e defende a sua veiculação. Ele afirma que a imagem é de interesse público, já que o assunto foi tratado por toda a grande imprensa. Diz ainda que três emissoras de TV e um site de internet requisitaram as imagens ao O Dia, o que demonstra a relevância jornalística.
“É uma imagem relevante, não está simplesmente jogada ali. Se não fosse dessa forma, ela não seria publicada e nós não seríamos procurados por outros veículos de imprensa”, sustenta.
O secretário-geral da Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio de Janeiro (Arfoc), Alcyr Cavalcanti, não partilha da visão de Freitas. Em sua opinião, o vídeo é desnecessário e não contribui com informações de interesse público. Porém, afirma que a decisão de publicar ou não cabe ao editor do veículo.
“A mídia, em geral, trabalha com o espetacular. Então, esses critérios de mostrar ou não ficam a cargo de cada jornal. São limites que não são e não podem ser impostos. Nós lutamos pela não interferência na liberdade de informação, mas eu não sei até onde vai a utilidade de se mostrar isso”, comenta.
"A morte faz parte do mundo privado"
A exposição do vídeo com o cadáver também foi alvo de críticas do professor livre-docente aposentado da USP Manuel Carlos Chaparro. Ele defende o direito de livre expressão, mas argumenta que o uso da imagem pode causar danos a outros. “É o problema dos efeitos, da maneira como se usa a liberdade de expressão”, diz.
Chaparro explica que a morte, culturalmente, faz parte do mundo privado das pessoas e das famílias e a veiculação de imagens como as publicadas no site do O Dia podem representar uma invasão de privacidade.
“Para explorar uma emoção coletiva, que é o interesse pelo mórbido, é preciso que se tenha um ganho social que se justifique. Nesse caso eu acho que não há”, afirma.
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Fonte: Comunique-se
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