quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Prédios de luxo serão construídos sobre antigo cemitério católico

Até a década de 30, área aos fundos de escola funcionava como cemitério de colonizadores


A construção de edificações em cima de antigos cemitérios já foi tema de inúmeras histórias e filmes envolvendo fenômenos sobrenaturais. Portas que se fecham sozinhas, aparições sinistras, objetos que se movem e vozes estranhas são alguns dos ingredientes utilizados nesses suspenses que têm como foco principal casas construídas em cima do que as culturas ocidentais passaram a considerar como “campo santo”. São inúmeros os filmes que retratam a situação, como os clássicos “O Iluminado” e “Poltergeist”, que segundo os diretores foram baseados em fatos reais. Mas, os que não se impressionam facilmente poderão contar com um luxuoso condomínio que será construído sobre o que já foi um cemitério católico aqui em Joinville.

Escravos e luso-brasileiros foram sepultados no local

O local fica no final da travessa São José, uma lateral da rua Ministro Calógeras. O solo sagrado que começou a abrigar os corpos foi construído em 1870 e desativado na década de 30 do século passado. Parte dos restos mortais foi transferida para um ossuário do atual cemitério municipal. A necrópole católica recebia os cadáveres de imigrantes luso-brasileiros mas também acolheu corpos dos escravos vindos com eles, e não puderam ser aproveitados devido a um dispositivo governamental que proibia a posse desse tipo de mão-de-obra. Muitos escravos falecidos e enterrados ali eram de crianças com poucos anos de vida.

As irmãs Margot Hagemann Lepper, 80 anos e Jutta Hagemann da Cunha, 82, relatam que seu bisavô, o açougueiro Johann Bernard Fernand Hagemann e sua esposa Elisabeth Hagemann foram sepultados no local onde será construído o luxuoso edifício. O corpo gélido de Johann baixou à sepultura em 1884, e Elisabeth dez anos mais tarde.

Crânios humanos em muros

Margot conta que, quando criança, costumava passear entre as sepulturas do cemitério. Assustada, ela afirma que suas caminhadas por entre as tumbas foram interrompidas depois que, misteriosamente, crânios humanos começaram a exibir seus mórbidos sorrisos em cima dos muros que cercavam o cemitério. “Eles sempre apareciam iluminados por velas durante a noite. Eu olhava e lá estavam eles olhando pra mim.”, relembra a descendente de Johann Hagemann. Questionada sobre a possibilidade de morar em uma construção que tenha seus alicerces sobre possíveis restos mortais, Margot responde categórica. “De jeito nenhum!”

Apartamentos serão vendidos a partir de R$ 600 mil

Em setembro desse ano, a construção do condomínio havia sido embargada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Depois de tomar conhecimento de que o local havia abrigado o cemitério católico, os técnicos do instituto impediram que a obra continuasse. O Iphan exigiu a apresentação de um documento contendo um levantamento sobre a área. De acordo com o procurador federal do órgão, Nelson Lacerda Soares, um documento foi entregue ao Iphan e a obra liberada. Era o sinal verde que faltava para a edificação. Segundo reportagem publicada no jornal A Notícia, o valor mínimo de cada apartamento custará cerca de R$ 600 mil.

O empreendimento é de uma empresa com sede em São Paulo em parceria com uma construtora de Joinville.

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