quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A Hidra Muda

Liguei a TV, e ao zapear os canais percebi que em um deles apareciam três criaturas que falavam e gesticulavam freneticamente. Porém, não se ouvia um grunhido sequer, nenhum cacarejo, nem mesmo um relincho ou uivo. Confesso que em um primeiro momento fiquei assustado com a expressão de cachorro louco daquele espectro televisivo, um verdadeiro poltergeist. Continuei a observar embasbacado e boquiaberto a situação surreal. Um deles me pareceu com muito calor, pois se abanava o tempo todo com um jornal em uma das mãos. Questionei-me. “O que será que esses seres tentam desesperadamente dizer?”. Alguma coisa me pareceu familiar naquelas cabeças deprimentes, entretanto, por mais que eu tentasse rever os arquivos de meu cérebro, não consegui identifica-los. Olhei atentamente e as três cabeças me remeteram à mitologia. Elas eram como uma hidra desvairada querendo “arranhar” alguém. Na cabeça central, que tinha uma aparência de cervo com raros fios de cabelo, era visível as artérias saltando e ganhando volume em seu pescoço, o que indicava a iminência de um piripaque. Esforço inútil, porque eu continuava sem ouvir nenhum mugido. O crânio da direita lembrava vagamente um batráquio, era o que menos gesticulava. Já a cabeçorra da esquerda, em determinados momentos passava a impressão que sairia da tela e saltaria como uma lagartixa doida para fora da TV, por cautela dei um passo para trás. Voltei a realidade e desisti de tentar decodificar aquelas mensagens apocalípticas. Sintonizei um canal de filmes antigos, muito bons por sinal.

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